sexta-feira, 12 de março de 2010

Meu Menino marrom


Encontrei meu Menino marrom. Aquele que Ziraldo escreveu. Na capa há um menino marrom com olhos de jabuticaba. Na verdade, ele diz, ele não tem olhos de jabuticaba, porque nem as jabuticabas são pretinhas de verdade como eram os olhos do menino marrom. (Ele acha que preto mesmo nessa vida só pantera, azeviche e carvão - e olhe lá.) Na contra capa lê-se numa letra bonita-bonita que aquele livro pertence à Srta. Mariana Faro. Assim mesmo. Senhorita. E as letras dizem que quem pegá-lo deve ter cuidado, por favor. Tem mais umas letras dizendo que seria bom também que não o rasgassem. E eu achei muito legal da parte de quem escreveu colocar esse ultimo pedaço. Porque quando eu usava meu menino marrom, a única coisa que eu fiz o favor de não fazer foi rasgá-lo. (sinto que faltam umas páginas, mas deve ser só impressão.) Não devo ter me conformado com as belas ilustrações que Sr. Ziraldo fez para tentar nos dizer o quanto o menino marrom era bonito, quantas cores ele tinha. Eu gostava tanto dele, que lhe redesenhei todinho. Ler era assim. Uma festa só. Não era só segurar e ouvir aquele senhor me contar sobre a história de dois meninos, um rosa e um marrom, que inventavam tantas coisas juntos quem nem se podia dizer o que era invencionice de um e o que era coisa do outro. Ler era tudo. Era fazer adendos, inventar do meu jeito, traduzir as palavras que me escapavam e redesenhar o que eu entendia. Meu menino marrom é todo ilustrado por mim - de dedinhos curtos e, vai ver, umas idéias longas - e por Ziraldo. Com aquelas cores de quem tem cinco anos e acha que cor-de-pele pode ser um milhão além daquelas umas que o Ziraldo disse que o moço da gráfica tinha de opções. Deve bem ter quem olhe e diga que ele é totalmente rabiscado, sem coerência ou coordenação motora e uma combinação esquisita das cores de pedaços de giz de cera, lápis de cor e canetas bic. Arte moderna, vandalismo. Ou, uma confusão só. Mas hoje eu o achei lindo.

Lindo porque eu vi umas palavras, umas coisas, umas sensações. Coisas que eu conheço hoje, mas que ao ver o Menino marrom eu apenas reconheci.

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