terça-feira, 28 de abril de 2009

Pequenos designers


Como a maioria dos curumins, quando era pequena tive meus rompantes de designer. Hair-designer (hã?) que seja, mas foi. Resolvi repaginar minha boneca preferida, mas foi uma experiencia meio frustrante porque o pseudo-cabelo que a Estrela arrumou não conseguiu todo o movimento que eu tinha projetado. E ainda mais frustrante por terem esquecido de colocar uma terceira camada de cabelo de mentira e a Débora ter ficado com um buraco no meio da cabeça, entre a nuca e o cocuruto. Eu chorei a beça, prometi que quando eu crescesse arrumaria um jeito de fazer um implante nela e depois fingi que era a ultima moda para bonecas.
Todos os pequenos são um pouco designers. Não são muito de se conformar com as velhas formas. Ilustram a parede, constroem carros-casa-parquinho com Lego e reconfiguram corpos dos bonecos. Um dia vi meu irmão brincando com uns bonecos meio esquisitos; tinham uns bracinhos, uns pernões. Perguntei quem era aquele de vermelho e ele me disse que era a barriga do super homem, com os braços do power ranger azul e a cabeça, ou era do Robin ou do power ranger vermelho. (e a arminha devia ser do Batman, porque tá ai um cara que sabe investir em tecnologia bélica).
Vai ver metade da graça de brincar esteja em destruir reprojetar e reinventar os brinquedos que a gente tem. Que graça têm os brinquedos, todos iguaizinhos, sem as intervenções únicas que aquelas mãozinhas pequenas arrumam? Trocar as rodas dos carrinhos, riscar ou redesenhar a cara das bonecas, amarrar um bando de panos e dizer (e acreditar) que é um vestido bem bacana. Pequenas customizações que nenhuma Grown ou Estrela poderiam arranjar.
O único briefing a ser seguido é alguma coisa entre o que se imagina e até onde a coordenação motora já consegue levar. De resto o projeto é livre de requisitos técnicos e inviabilidades (pelo menos antes da gente ver que o cabelo da boneca não cresce mais.) É a liberdade de quem não tem muito medo de errar; de quem ainda não se preocupa de não conhecer tudo e, ao contrario, se diverte e maravilha com o novo.
Ás vezes a gente cresce e esquece que tudo que ta aí foi feito para ser repensado. Deixamos que as formas costumeiras nos convençam que são absolutas e verdadeiras. Acostumar o olhar é acomodar o corpo.. é deixar pra trás a capacidade de se surpreender com as coisas através da janela e encarar tudo com cara de 'eu já sabia'. A certeza acaba nos paralisando não é? Talvez sejam as duvidas e questionamentos que nos movam. Deveríamos nos lembrar da surpresa,da descoberta e de como pode ser boa a incerteza daquilo que talvez venha. Esquecer os recém adquiridos e tão velhos modos de enxergar e não que temos grande capacidade de modificar as coisas.
Os pequenos designers que fomos ainda nos mostram que pode ser simples olhar as coisas a nossa volta e transformá-las, acreditando que sempre é possível tornar melhor.