sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Presente de todo dia


Eu tinha 6 anos e pouco mais de um metro quando finalmente resolveram me dar o presente que eu pedia fazia uns três ou quatro natais. Ele custou a bessa pra chegar e ficou tão atrasado que nem no natal chegou. Papai noel entregou no dia do folclore, que nem era dia de ganhar presente nem nada, mas vai ver era dica de que aquele serzinho parecia um curupira ainda ia render muita história pra contar.

Quando chegou veio meio amassado e eu conclui, do alto dos meus sete anos, que esse era mais um daqueles presentes que perdem a graça quando sai da loja. Não falava, não andava e mamãe disse que ia custar um pouco pra gente poder jogar bola ou qualquer outra coisa legal que eu achava que era coisa de irmão. Ou seja, uma farsa. Eu queria um irmão daqueles da sessão da tarde e me trouxeram um pacotinho com cara de joelho que nem pra travinha servia. Se houvesse jeito de devolver eu tinha devolvido.

No hospital não me deixavam pegá-lo no colo, o que eu considerava um total desrespeito aos meus direitos de irmã mais velha. Ganhei um irmão mas nem tinha muito o que usufruir. Em setembro, desencantada com esse negócio de irmão, eu já teria trocado por uma bicicleta ou qualquer coisa que fosse anunciada no intervalo da TV Colosso.

Foi ai que eu me apaixonei. Não que eu estivesse sendo tendenciosa ou quisesse me gabar, mas quando meu irmão perdeu a cara de joelho ele realmente se tornou o bebe mais bonito do planeta. Ele conseguia ser genial até se lambuzando na papinha de beterraba ou engatinhando pra dormir na parte mais geladinha da lajota. Acho que foi aí que eu vi que ele seria minha melhor e eterna companhia. Quando ninguém estava por perto eu ia lá no berço e batia altos papos com ele. Mexia nas bochechas, nos olhos e contava causos que, como até hoje, ele acreditava sem duvidar. Para um serzinho ainda meio limitado meu irmão até conseguia ser uma boa companhia e eu acreditava que ele ainda podia render alguma coisa e que realmente prometia muito pra quando finalmente andasse e falasse.

Eu nem entendia ainda, mas tinha dias em que eu desejava que ele fosse daquele jeito pra sempre. Em outros eu sonhava acordada sobre quando eu finalmente fizesse doze anos e alcançasse as coisas do alto e ele, com cinco, me pedisse pra pegá-las. Porque doze anos era o meu referencial de idade adulta e nem ir na Xuxa e marcar ponto prasmeninas podia ser mais legal do que a prerrogativa de alcançar as coisas do alto pro irmão.

Foi então que ele cresceu. E se tornando a criança mais bacana do universo ele fez com que eu me apaixonasse de novo. Ele fazia as melhores gracinhas e mesmo pequena me enchia de tanto orgulho que não havia espaço para o ciume que as tias velhas maldavam em prever. Mesmo quebrando as minha coisas, por mais uma vez, eu quis que ele fosse assim pra sempre. (porque não queria correr o risco dele crescer e ficar chato) Mas eu já tinha começado a aprender que acontece de crescermos.

Então eu vejo hoje ele crescer mais uma vez. Cresce, todo dia em uma coisa nova. E aí, como se fosse possivel ser diferente, ele se torna o rapazinho mais incrível que eu jamais conheci. É de uma educação, uma convicção e uma gentileza sem fim. Tem ataques de má-criação mas parece que é só pra deixar claro que não aceita que o desrespeitem. Ele ainda me surpreende e teima em continuar sendo o melhor presente de todos os natais (incluindo o de 98 quando eu ganhei a bicicleta usada sem rodinhas).

Que ainda há muita vida pela frente eu desconfio. Minha única certeza é que, ainda que a vida seja longa e dure uns trezentos anos, o que nos faz irmãos não se pode desfazer.

Por mais que eu pense sobre o futuro e muito seja incerto, dizem ser fato que coisas novas virão e que vamos mudar. E isso não assusta simplesmente porque aprendi que passaremos juntos, assistiremos as mudanças chegar.. Então, num desses dias em que dividimos um prato, o sofá e a tevê, eu verei ele crescer.. e se tornar novas coisas das quais eu vou continuar a me orgulhar.


Parabéns, Fred. Mana te ama.