quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"E eu nem chorei"


Queria ter caído mais. Vá lá que arrumei alguns cascões de ferida de fazer inveja nos coleguinhas, conquistei mais medalhas no joelho do que Phelps na natação e fui muitas vezes colorida de vermelho-merthiolate pra escola. Mas olhando daqui dos 21 parece que foi pouco.

Pouco porque era uma época propicia para quedas, a infância. Venhamos e convenhamos que chega uma idade que cair pega mal. Quando se tem 8 ou 9 anos você é feito pra andar ralado e é um grande feito levar o gesso prozamiguinhos assinarem. E, dependendo da importância que os adultos dão pra coisa (sim, porque cair só dói mesmo quando a mãe leva a queda a serio), a gente simplesmente esquecia e ia dar comida pro tamaguchi. Simples assim. Ninguém, aos 10, faz terapia porque não teve sucesso na tentativa de descer de cabeça pra baixo o escorrega – bunda ou porque errou o freio da Caloi na ladeira.

Adulto caindo não tem lá muita naturalidade. Não sei se pelo caráter recente da coisa ou porque já não se reage da mesma forma quando se é gente grande, mas não vemos marmanjos narrando suas grandes quedas tardias. Criança não perde a chance de contar a história inteira do dia em que conseguiu a nova ferida e faz questão do band-aid, aquele que pisca/brilha no escuro, do Ben10 ou rotiuíl. Não interessa se levou trinta e dois pontos externos (mais 27 internos) ou a vó ficou bege de ver o osso do menino. Pra criança é coisa do dia a dia, daquelas que a gente esquece antes do recreio chegar.

Quando a gente cresce a coisa complica. Há todo um drama ligado ás quedas. A gente não esquece o machucado simplesmente e segue a vida. Vai na emergência, arruma atestado, passa na farmácia pra ver se tem um genéricodequalquercoisantinflamatória e reza pra não infeccionar. Alias, infeccionar, é coisa de adulto, ninguém com 10 anos se preocupa se a ferida diginvolve para megaferida quando se come camarão. Criança lida muito melhor com um osso partido em cinco partes do que qualquer adulto jamais lidará. Li sobre o menino que decepou o braço brincando com o irmão e com medo da mãe brigar guardou o braço no freezer e foi dormir. Vê? Braço decepado não é nada, perigo mesmo é a mãe brigar. “Achas que dá pra por um band-aid do ben10?” “Hum, sei não” “Ah, então vamo dormir antes que a mãe veja.”

É como dente de leite, flexibilidade e (em alguns casos) sinceridade: a maioria vai perdendo a mãnha de cair com o passar do tempo. Sem falar na naturalidade que é meio complicada de ter com a combinação reunião+chefe/cliente+esparadrapo. Uniforme e merendeira casam, sem duvida, muito melhor com esse tipo de coisa.

O tempo passa e fica muito mais difícil e menos aceitável estar por ai com hematomas, roxos e arranhões.. em alguns casos não sem comentários maliciosos e suposições sobre atividades da noite anterior. Minha última queda narrável foi com 15 anos. Naquela idade que a gente acha que é mocinha mas na falta do que fazer vai andar de bicicleta, com primo na garupa, sem freio, na ladeira de piçarra. Vai ver é por isso que as meninas resolvem crescer depressa; a sociedade não compreende mocinhas enroladas em ataduras e todas trabalhadas no merthiolate, creiam-me.

Se há um tempo pra cair ele acontece antes da gente começar a achar que entende das coisas. Antes de a gente ter CPF, chefe e fatura pra pegar. Todas as quedas que contaremos lá na frente devem ser arrumadas ali, antes das espinhas, festinhas e paquerinhas. E é bom que aproveitemos ao máximo enquanto não levamos muito a serio os machucados. Dizem que tem gente que cresce e cria medo de se machucar.. Nunca vi criança dizendo que tá dispensando a bicicleta porque ela não é lá muito segura. Para que a gente aprenda a cair quando grande a gente tem que treinar pequenininho. Ou então se cresce e vira um daqueles adultos que tem medo de tentar e sequer uma boa presepada da meninice pra contar.

domingo, 1 de novembro de 2009

Coletivos


Filosofias da vida, palavrão e mistério de último capitulo de novela. Que fonte de conhecimento podia, em tempos pré-google, ser tão rica e nos apresentar informações sobre toda sorte de assuntos? Os professores, genitores e toda a gente que se empenhou em me ensinar alguma coisa nessa vida que me perdoem, mas grande parte do que hoje eu sei aprendi mesmo no gracioso transporte coletivo desta cidade. Poucas experiências na vida conseguem ser tão educativas. Mal sabia meu pai que, naquele 1998, com seu mão-de-vaquismo peculiar ao tentar me convencer que era mais vantagem eu ir sozinha para escola do que obrigá-lo a tirar o carro da garagem, ele estava conseguindo bem mais que economias no orçamento familiar.


No ônibus eu aprendi que é importante se segurar se quiser chegar inteiro, que acordar com a boca cheia de formiga não é uma expressão muito amigável e que carisma nem Mastercard pode comprar. Conheci verdadeiros mestres do marketing vendendo balasparatosse-caneta-adesivo-cinco-por-um-real-ou-vale-transporte, fiz amizades daquelas que duram duas ou três paradas e conheci gente que pergunta o trajeto e termina falando do marido, do filho e de como os preços estão subindo. Os velhinhos são capítulo a parte. Certa vez conheci um que em três quarteirões me contou sobre como tinha ajudado a construir a Av. Almirante Barroso, sua opinião sobre quem joga lixo na rua e suas incursões como líder comunitário. Pessoas que te dão sorrisos cúmplices quando você faz sinal para mesma parada e aqueles que seguram um pouquinho mais a saída até que todos alcancem a porta. Há toda uma solidariedade peculiar nas relações que se desenvolvem nos Mercedez Bens coletivos e companhia. Quem nunca, ao ser violado no seu direito de descer na parada solicitada, conquistou duas duzias de amiguinhos que em coro gritavam o característico 'ê, motora!'?

Me mantive atualizada sobre os lançamentos musicais nas rádios exóticas sintonizadas e acompanhei novelas graças ao transporte coletivo. Metade dos folhetins nas manchetes de capa de revista na banca em frente a parada e outra nos comentário inflamados sobre a Helena da vez. Nenhum outro meio de transporte pode oferecer tanto entretenimento. Discute-se política, esportes, ouve-se mentiras. Ficamos sabendo fofocas da vida de gente que nunca vimos mais gordos e novidades dos mais diferentes segmentos. Nenhuma viagem termina sem doses de emoção. Se no carro a única distração são os xingamentos presos pelos vidros fechados, nos ônibus fluem livremente amigáveis diálogos iniciados com discussões sobre o local da parada, e que geralmente caminham para comentários sobre a fidelidade da esposa do motorista e suposições sobre a orientação sexual do dito cujo.

Andar de ônibus é antes uma experiencia do que um simples meio de transporte. Quem é usuário desta maravilha das relações sociais conhece a capacidade de interação que aquele pequeno espaço pode proporcionar e os milagres que são operados em seu interior. A começar pela excessiva intimidade com desconhecidos, no compartilhar de histórias, colônias e outros odores mais e passando pela quase irônica plaquinha indicativa da capacidade que aquele veículo pode transportar. Se o número de passageiros sentados já não se pode levar a sério o que falar dos risíveis 20 estimados passageiros em pé? Desconfio mesmo que seja coisa de nossa Senhora de Nazaré, numa releitura da corda talvez, fazer com que quatrocentas e vinte mil pessoas consigam se segurar em uma pequena barra de metal.

Somente os usuários dos coletivos sabem que dois corpos podem sim ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Antes das 8:00 e depois das 18:00, até três ou quatro. Há, aliás, todo um conhecimento restrito aos usuários de ônibus, sem falar no exclusivíssimo código de ética dos coletivos. Procedimentos, rituais pra maçom nenhum contestar. À exemplo do direito ao lugar que acabou de ficar vago. Os menos versados no assunto diriam que o assento é por direito do cidadão mais próximo, a vivência nos ensina que ele sempre será do mais ágil. E quanta agilidade e perspicácia pode ser adquirida com a prática do andar de ônibus. A sutil guerra de olhares por um lugar na eminência de ficar vago, o contorcionismo para deixar passar a senhora de formas avantajadas mais os quatro mininu que ela traz pela mão e a maratona para atravessar vivo os 400 cm com obstáculos entre a roleta e a porta.

Fato é que o ônibus traz toda uma vivencia que só ele pode arrumar. Aprende-se aquela rotina do ônibus, com as caras conhecidas das 7:15 e aquele horário de passar que a gente estranha se atrasar. Toda a aventura que ele te proporciona logo pela manha, começando com uma agradável sensação de incerteza pra saber se ele vai estar lá ou não e como ele pode te surpreender vez ou outra com a necessidade daquela corridinha matinal pra não perdê-lo na parada. Duvido que quem ande de carro, naquele insosso ar-condicionado e privado do calor humano possa contar com tanta emoção.

E tudo isso não é mais do que uma forma de enxergar com muita boa vontade e um pretensioso ar saudoso as muitas e boas histórias que andar de ônibus já me arranjou, agora que o DETRAN finalmente resolveu que não sou tão prejudicial ao trânsito desta cidade, me deu uma licença para dirigir e teoricamente passarei para o lado menos divertido da locomoção.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Presente de todo dia


Eu tinha 6 anos e pouco mais de um metro quando finalmente resolveram me dar o presente que eu pedia fazia uns três ou quatro natais. Ele custou a bessa pra chegar e ficou tão atrasado que nem no natal chegou. Papai noel entregou no dia do folclore, que nem era dia de ganhar presente nem nada, mas vai ver era dica de que aquele serzinho parecia um curupira ainda ia render muita história pra contar.

Quando chegou veio meio amassado e eu conclui, do alto dos meus sete anos, que esse era mais um daqueles presentes que perdem a graça quando sai da loja. Não falava, não andava e mamãe disse que ia custar um pouco pra gente poder jogar bola ou qualquer outra coisa legal que eu achava que era coisa de irmão. Ou seja, uma farsa. Eu queria um irmão daqueles da sessão da tarde e me trouxeram um pacotinho com cara de joelho que nem pra travinha servia. Se houvesse jeito de devolver eu tinha devolvido.

No hospital não me deixavam pegá-lo no colo, o que eu considerava um total desrespeito aos meus direitos de irmã mais velha. Ganhei um irmão mas nem tinha muito o que usufruir. Em setembro, desencantada com esse negócio de irmão, eu já teria trocado por uma bicicleta ou qualquer coisa que fosse anunciada no intervalo da TV Colosso.

Foi ai que eu me apaixonei. Não que eu estivesse sendo tendenciosa ou quisesse me gabar, mas quando meu irmão perdeu a cara de joelho ele realmente se tornou o bebe mais bonito do planeta. Ele conseguia ser genial até se lambuzando na papinha de beterraba ou engatinhando pra dormir na parte mais geladinha da lajota. Acho que foi aí que eu vi que ele seria minha melhor e eterna companhia. Quando ninguém estava por perto eu ia lá no berço e batia altos papos com ele. Mexia nas bochechas, nos olhos e contava causos que, como até hoje, ele acreditava sem duvidar. Para um serzinho ainda meio limitado meu irmão até conseguia ser uma boa companhia e eu acreditava que ele ainda podia render alguma coisa e que realmente prometia muito pra quando finalmente andasse e falasse.

Eu nem entendia ainda, mas tinha dias em que eu desejava que ele fosse daquele jeito pra sempre. Em outros eu sonhava acordada sobre quando eu finalmente fizesse doze anos e alcançasse as coisas do alto e ele, com cinco, me pedisse pra pegá-las. Porque doze anos era o meu referencial de idade adulta e nem ir na Xuxa e marcar ponto prasmeninas podia ser mais legal do que a prerrogativa de alcançar as coisas do alto pro irmão.

Foi então que ele cresceu. E se tornando a criança mais bacana do universo ele fez com que eu me apaixonasse de novo. Ele fazia as melhores gracinhas e mesmo pequena me enchia de tanto orgulho que não havia espaço para o ciume que as tias velhas maldavam em prever. Mesmo quebrando as minha coisas, por mais uma vez, eu quis que ele fosse assim pra sempre. (porque não queria correr o risco dele crescer e ficar chato) Mas eu já tinha começado a aprender que acontece de crescermos.

Então eu vejo hoje ele crescer mais uma vez. Cresce, todo dia em uma coisa nova. E aí, como se fosse possivel ser diferente, ele se torna o rapazinho mais incrível que eu jamais conheci. É de uma educação, uma convicção e uma gentileza sem fim. Tem ataques de má-criação mas parece que é só pra deixar claro que não aceita que o desrespeitem. Ele ainda me surpreende e teima em continuar sendo o melhor presente de todos os natais (incluindo o de 98 quando eu ganhei a bicicleta usada sem rodinhas).

Que ainda há muita vida pela frente eu desconfio. Minha única certeza é que, ainda que a vida seja longa e dure uns trezentos anos, o que nos faz irmãos não se pode desfazer.

Por mais que eu pense sobre o futuro e muito seja incerto, dizem ser fato que coisas novas virão e que vamos mudar. E isso não assusta simplesmente porque aprendi que passaremos juntos, assistiremos as mudanças chegar.. Então, num desses dias em que dividimos um prato, o sofá e a tevê, eu verei ele crescer.. e se tornar novas coisas das quais eu vou continuar a me orgulhar.


Parabéns, Fred. Mana te ama.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Do que se faz o tempo.


Um dia me disseram que o tempo cura todas as feridas. Os dias me mostraram que não há nada mais certo. E não é só de feridas que ele dá conta.
É o remédio para cortes de cabelo mal feitos, mágoas, moedas engolidas e tantas outras agonias cotidianas.

É de tempo que somos feitos, mas não sei do que é feito o tempo. Desconfio que deve ser um misto de paciência com distancia. Algo que nos faz ir longe do que hoje nos machuca.

O estranho é que ele também deve ter algo a ver com saudade. Não é só de desastres e arrependimentos que ele nos leva. Por vezes nos afasta de boas coisas que costumávamos viver ou ser. E aí dá vontade de fazer o caminho inverso, de uma estradinha que até hoje só se conhece a ida.

Talvez tempo seja feito somente do que fazemos dele. Existem dias que usamos como degraus para irmos além do que hoje não faz bem e meses inteiros feitos da saudade que deixamos em algum lugar. E é por isso que nossos minutos são preciosos. É o que fazemos deles, e da soma deles, o que nos constrói. Com o que gastamos nossos dias é o que seremos no fim deles.

No final, se seremos um amontoado de dias que sejam de dias bons, não é? De aprendizado, de realizaçao. Se gastarmos nossos dias com construção nosso tempo terá sido feito das nossas realizações. Os dias convertidos em ação, mudanças e feitos. Tempo perdido é todo o tempo em que continuamos a mesma coisa de antes. Todos temos o mesmo tempo, mas é de maneiras diferentes que o gastamos. E é nas diferentes formas de ser que encontramos as variadas formas com que cada um gastou seu tempo.

O que vamos querer ser daqui a pouco? O que queremos ver lá atrás quando o tempo já tiver sido usado? É todo nosso e o que faremos dele nós iremos encontrar daqui a pouquinho ou daqui a um tempão. Será que estar parado não é deixar o tempo passar em vão? Acho que poucos são os que querem chegar lá na frente e ver que nada ficou do tempo que passou. Eu quero ver outra Mariana daqui a vinte anos, porque seria muito desperdício e sem graça ser a mesma daqui a tanto tempo. Talvez baste só começar com o hoje o queremos ser e ver daqui há um tempão. E o melhor é que temos o resto dos dias todos para modelar.

Acabo de transformar minha última meia hora nessas palavras.. e começo a acreditar que tempo deve ser realmente feito do que fazemos dele.

sábado, 6 de junho de 2009

TCC


Casei. Eu não sabia, mas desde que comecei TCC I me meti em um relacionamento sério, ás vezes enlouquecedor e, graças a Deus, com hora pra acabar. É caso de união instável, cheio de idas e vindas, e constantes problemáticas a serem resolvidas.


No início tudo são flores, você e o tema se conhecem por ai na faculdade, se encantam. Vai conhecendo melhor, descobrindo as referencias e começando a achar que, sim, é ele! Então resolve oficializar as coisas: apresentar pra família, para o orientador e começa a colocar tudo nas regras da ABNT. Quando nos damos conta, estamos ali, perdendo noites de sono por causa dele.

E é um desses relacionamentos em que a pessoa tem que abandonar a vida social e viver em função do outro. Canoa mesmo. Se me chamam pra sair eu tenho que dizer 'vou ver aqui o TCC, pra ver se a gente vai'. É, a gente. Porque quando saio ele vai junto. Ou vejo embalagens em qualquer estampa de camisa alheia ou fico me perguntando 'o que é que eu to fazendo aqui que não tô fazendo meu TCC?'.

Os amigos estão quase todos na mesma. Até as conversas passam a girar em torno disso. Na faculdade quase ninguém mais pergunta como você está, mas sempre querem saber como ele vai. É ai que a gente constata que, em tão pouco tempo, ele já tomou conta da escrivaninha, dos seus favoritos e dos arquivos do computador.

O pior é que ainda vivemos triângulos amorosos. Eu, minha dupla e o TCC, por exemplo. Nos apaixonamos pelo mesmo tema e decidimos dividi-lo. E, vejam bem, não é que possamos fazer a possessiva e querer ele só pra gente. Se uma se enche dessa coisa toda e resolve desistir a outra não fica feliz e tem que dar aquela força, convencer que está tudo bem e que ainda vai dar tudo certo.

Mesmo com tudo isso, como a maioria dos relacionamentos, esse é mais um daqueles que apesar das coisas ruins ainda consegue te fazer feliz. Ele te faz perder noites de sono, ás vezes alguns passeios.. mas dizem que é só questão de resolver os problemas geradores, confirmar as hipóteses e quando os objetivos (gerais e específicos) começam a ser alcançados a gente realmente vê que vale a pena. A rotina as vezes é cansativa, mas sempre tem dias bons em que o referencial teórico anda e a metodologia finalmente é concluída!

Há quem diga que é melhor desistir, quem busque pares perfeitos na internet.. Mas todo dia a gente aprende que se não houver entrega a recompensa não tem o mesmo gostinho. E esses relacionamentos acabam sendo sempre formas de crescimento, mesmo quando a gente acha que não tá mais dando certo..

A melhor parte é que há vida (e mais trabalho!) após o TCC. Ainda nos apaixonaremos por outros temas, nos casaremos com muitos projetos.. e o mais importante de tudo é que eles continuem nos fazendo felizes para sempre.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Quem somamos


Dia desses no shopping vi casalzinho de franja cobrindo os olhos, meias listradas e cintinho igual; passaram de novo por mim, e de novo e de novo. Depois da terceira, comecei a desconfiar que não era o mesmo casal e ainda assim, de todos que passavam, eu nunca conseguia distinguir qual era o menino e qual era a menina (nem simplesmente se eram dois meninos ou duas meninas.). É um tempo das tribos. Dos emos, dos indies, dos cantores de axé.. (não, esses últimos são atemporais.) As pessoas se agrupam, compartilham o que pensam, o que vestem, músicas nos Ipods e, dizem, o que são. Nessa parte, sobre o que se é, tenho lá minhas dúvidas. E algumas certezas.


Não duvido que as presenças que experimentamos durante as nossas andanças possam acrescentar consideravelmente ao que no fim nos tornamos. Mas somos soma e não simples reprodução, não é? Acho que ainda que grupos, cada um trás sua bagagem. Tenho amigos que usam drogas e amigos que cantam no coral da igreja, aprendi muito com os dois tipos e não faço nenhuma das duas coisas. O diga me com quem andas e te direi quem és tem cara de tias velhas conservadoras que olham bando de jovens e dão aquela balançadinha de cabeça desaprovadora. Nossos dias, hábitos, nossas relações e trocas cada vez mais intensas têm mais cara de diga me quem és e te direi quem encontraste, ou algo do tipo.

Não nos bastamos e penso ser difícil que um dia possamos ser auto-suficientes. É típico de ser gente isso de se juntar. E vai ver que é ai que mora o crescimento. Encontros, conversas, trocas. Não se troca muito quando se é igual. (Ou quando estamos satisfeitos com o que somos prontoacabou.)

E é provável que cada encontro nessa vida seja um aprendizado, uma experiência ou no mínimo uma mentira nova pra contar. Quem mede os quais se junta perde mais do que pode calcular. Professor, Doutor .. até que sabem de umas coisas, mas bêbado de fim de festa, idoso em ônibus e criança perdida já me ensinaram boas coisas que nem no Google dá pra achar.

Pessoa disse, e eu não ouso não reproduzir direitinho, que 'Regra é da vida que podemos, e devemos, aprender com toda a gente. Há coisas da seriedade da vida que podemos aprender com charlatães e bandidos, há filosofias que nos ministram os estúpidos, há lições de firmeza e de lei quem vêm no acaso e nos que são do acaso. Tudo está em tudo.' É fato que está. Não podemos supor que o que nos vale estará de fato na biblioteca, Tesouro da Juventude.. tem dias que o que nos falta está na turma da Mônica ou lá em Calvin e Haroldo!

Somos aquela velha, batida e muito verdadeira história da colcha de retalhos, e quem chega aos 25 achando que já está bem costurado deixa de achar muito tecido, textura e caimento (ui) novo por aí. Até o fim estamos aprendendo, afinal ainda que já tenhamos visto tudo no mundo (o que nem Dercy viu.) ele, e as pessoas que estão nele, tornam a mudar a cada dia, não é? Não desperdicemos os encontros, as pessoas e os novos 'nós' que ele podem nos trazer. Diremos com quem andamos e qual parte de nós eles fizeram.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Pequenos designers


Como a maioria dos curumins, quando era pequena tive meus rompantes de designer. Hair-designer (hã?) que seja, mas foi. Resolvi repaginar minha boneca preferida, mas foi uma experiencia meio frustrante porque o pseudo-cabelo que a Estrela arrumou não conseguiu todo o movimento que eu tinha projetado. E ainda mais frustrante por terem esquecido de colocar uma terceira camada de cabelo de mentira e a Débora ter ficado com um buraco no meio da cabeça, entre a nuca e o cocuruto. Eu chorei a beça, prometi que quando eu crescesse arrumaria um jeito de fazer um implante nela e depois fingi que era a ultima moda para bonecas.
Todos os pequenos são um pouco designers. Não são muito de se conformar com as velhas formas. Ilustram a parede, constroem carros-casa-parquinho com Lego e reconfiguram corpos dos bonecos. Um dia vi meu irmão brincando com uns bonecos meio esquisitos; tinham uns bracinhos, uns pernões. Perguntei quem era aquele de vermelho e ele me disse que era a barriga do super homem, com os braços do power ranger azul e a cabeça, ou era do Robin ou do power ranger vermelho. (e a arminha devia ser do Batman, porque tá ai um cara que sabe investir em tecnologia bélica).
Vai ver metade da graça de brincar esteja em destruir reprojetar e reinventar os brinquedos que a gente tem. Que graça têm os brinquedos, todos iguaizinhos, sem as intervenções únicas que aquelas mãozinhas pequenas arrumam? Trocar as rodas dos carrinhos, riscar ou redesenhar a cara das bonecas, amarrar um bando de panos e dizer (e acreditar) que é um vestido bem bacana. Pequenas customizações que nenhuma Grown ou Estrela poderiam arranjar.
O único briefing a ser seguido é alguma coisa entre o que se imagina e até onde a coordenação motora já consegue levar. De resto o projeto é livre de requisitos técnicos e inviabilidades (pelo menos antes da gente ver que o cabelo da boneca não cresce mais.) É a liberdade de quem não tem muito medo de errar; de quem ainda não se preocupa de não conhecer tudo e, ao contrario, se diverte e maravilha com o novo.
Ás vezes a gente cresce e esquece que tudo que ta aí foi feito para ser repensado. Deixamos que as formas costumeiras nos convençam que são absolutas e verdadeiras. Acostumar o olhar é acomodar o corpo.. é deixar pra trás a capacidade de se surpreender com as coisas através da janela e encarar tudo com cara de 'eu já sabia'. A certeza acaba nos paralisando não é? Talvez sejam as duvidas e questionamentos que nos movam. Deveríamos nos lembrar da surpresa,da descoberta e de como pode ser boa a incerteza daquilo que talvez venha. Esquecer os recém adquiridos e tão velhos modos de enxergar e não que temos grande capacidade de modificar as coisas.
Os pequenos designers que fomos ainda nos mostram que pode ser simples olhar as coisas a nossa volta e transformá-las, acreditando que sempre é possível tornar melhor.

domingo, 15 de março de 2009

Quase tudo sobre minha mãe


É como se a cada dia eu me pegasse mais parecida com ela. E não pode haver nada que dê mais orgulho. Acho que foi ela que, sem querer, me ensinou a falar tanto. Me ensinou, sem saber, a gostar das novas coisas, dos livros. Ainda que hoje ela tenha mania de ler só alguns bons capitulos de qualquer um que ela compre ou ganhe.

Acho que se ensina bem mais sendo, do que falando. E minha mãe não podia deixar de lecionar sobre ser especial. É como fala, sobre o que fala, no que acredita. É a paixão pelo que faz, a certeza de que as coisas vão realmente ficar boas uma hora. E sempre ficam.

Digo que durante aqueles nove meses, em algum momento, as mães vão para um spa/clube/liceo das mães, e aprendem sobre tudo. Aprendem a adivinhar que festas nao vais gostar, mesmo quando insites um mês para ir. Aprendem sem nem conhecer, a detectar pessoas que não vão lhe fazer muito bem e todas as caras correspondentes a qualquer coisa que você possa sentir (de dor de barriga à de cotovelo). O resto é alguma disciplina sobre pragas. Sempre que ela diz que acha que não vai dar muito certo eu aprendi a pensar 'pronto agora é que não vai dar mesmo.valeu!'.

Eu era pequetita e ela sempre foi a melhor companheira. E companheiros que mandam você, com 5 anos, refletir sobre suas atitudes e te deixam estragar seus brinquedos (porque eles são seus,ora) são, a longo prazo, os melhores que podem existir.

Ela sempre me dizia que queria que eu fosse amiga dela, e quando eu tinha 14 eu nao entendia mesmo o que ela queria dizer com isso. Ninguem com 14 pode. Porque o que eu sabia sobre amigos não podia se parecer em nada sobre o que hoje nós temos.

Ela me fala de coisas que eu rio e daqui ha um tempo descubro que é a mais pura verdade. E ela não tem pressa, espera que eu entenda. É assim que ela me ensina que o tempo tras tudo o que nos é necessário. Ela vê as coisas que dão errado com sorrisos (umas reclamações tambem vai, que ninguem é de ferro) e lá na frente ela me mostra como as cagadas construiram boas oportunidades no hoje.

Ela é a única resposta que admito ainda não ter. O resto ela ja me ensinou que não é dificil entender. Porque quando alguma coisa fica complicada demais ela me mostra um jeitinho de olhar que, caramba, que óbvio e simples que é! E quero que cada dia ela esteja mais em mim. No jeito de abraçar e enxergar as coisas, no jeito de pegar na cintura e mandar o Fred arrumar logo a bagunça do quarto e até nas cômicas peculiaridades e invencionices sem fim, que nos fazem pensar que tá meio explicado sermos assim.

Ela é ela. E eu já chorei um dia, lhe contando que eu não queria nem pensar como seria o dia em que eu não pudesse ouvi-la. Por que eu me apaixono pela minha mãe todos os dias, por tudo que com os olhos, as palavras e os gestos, ela me diz.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O início do fim

Dizem que todo fim é, na verdade, um novo começo.

Lá estamos nós, muito bem obrigado, no útero acolhedor de nossas mães, quando não mais que de repente nos puxam pela cabeça, mandando gás carbonico aos nossos pulmões e nos apresentando nossas novas vidas. Um choque. Lá se vai a boa vida parasitária. Agora temos que chorar pra mamar, pra trocar a fralda e aguentar tudo quanto é tio e tia que vem visitar e dizer que a gente parece qualquer tataravô que já bateu as botas faz tempo. Nada é fácil no inicio.

Durante toda a vida passamos a nos acostumar com ciclos, que se iniciam quando menos esperamos e que se acabam quando mal começamos a nos acostumar com a coisa toda.

Um novo fim começa a se aproximar. Desde que assinamos a tal lauda de Diplomado começamos a dar passinhos em direção ao encerramento de mais um ciclo, fase, etapa,missão.. como queiram.
O fato é que esses 365 dias (ou menos!) nos separam das pessoas que vamos nos tornar no fim dessa caminhada. Parece que foi ontem que estávamos aprendendo a desenhar postes do ver-o-peso e as infinitas aplicações do jupati; mas as caras, as vivencias, as cagadas e experiencias nos mostram o tempo todo que um bom tempo se passou. A maioria agora já vai dirigindo p'almirante e já sente o gostinho do trabalho escravo do estagio nosso de cada dia. Agora vem aquele tal TCC, que a gente jurava que ainda demorava, e enquanto ainda jogávamos umas três fichas de bilhar e rachávamos uma Coca no 'era lá fora' ele chegou e se instalou. Ainda não sabemos se TCC se come com farinha ou se a ABNT ta de sacanagem com esse bando de normas que mudam do dia pra noite, mas a beca e o diploma só chegam quando a banca e a Rosângela assinarem na pagina que vem antes (ou é depois?) dos agradecimentos.

Há quem já esteja a meio caminho andado do seu projeto; aqueles que já tiveram sonhos e ouviram vozes ocultas a respeito de seus temas e outros que não sabem nem se passaram em Expressão Gráfica I. Seja como for, essa turma, que é uma mistura de erro no edital com completa exceção a regra do curso, já mostrou que tem 'espirito empreendedor', principalmente quando unida. Foi assim com os desenhos técnicos que não saiam, com as maquinas de quebrar coco, com os ladroes que começaram a bater ponto para nos roubarem e com (que os professores não vejam isso) as questões de prova que ninguém fazia idéia da resposta.

A gente já passou por muita coisa. Vem mais por ai. Mas a técnica da flutuação, para desvio de problemas vem sendo aperfeiçoada pela atual 4DIN1.

Ninguém duvida que esse ano vai ser longo. Ás vezes vai ser chato, vai ter dias que a gente vai querer largar tudo e fazer Direito, outros em que a gente vai querer mandar o orientador e o objeto de estudos para o 40 horas. Mas ai, é só olhar para o lado e lá vai estar um amigo, companheiro de turma, mais ferrado que você. E juntos, desse jeito que tem sido nesses três anos, a gente vai ver que a coisa acontece. Que o diploma vem, que no cruzeiro ou ali no pátio a formatura sai, que ser Designer geralmente não é ter vida de carteira assinada, e que nossa torcida não deu azar em 2006 e o Brasil ainda vai ser Hexa! Yes, we can!

Bom trabalho nesse ano para todos nós e que no fim a gente ainda dê muita risada de tudo isso!
(Escrito no início desse nosso novo fim. Aos quase designers e, principalmente, amigos que o Design trouxe)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Às 10h da madrugada

Fica a dica, caso role uma nova ditadura, que acordar cedo podia ser usado como eficiente método de tortura. (que pode ser incrementado com sustos ocasionados por vendedores de frutas ou brigas de vizinhos)

Se tiver compromisso mais ou menos uns 15,20 minutos depois da hora que abriu os olhos então, ai fica ótimo! Não tem jeito, depois que inventaram esse negócio de função soneca eu comecei a chegar bem mais atrasada em qualquer coisa que marquem comigo antes das dez. Não consigo usar a coisa com moderação. De sete a treze 'sonecas' costumam funcionar pra mim, menos que isso, acredito, é mal aproveitamento da função oferecida pelo celular.

E pior que acordar tarde quando se devia ter acordado cedo é o susto e suas conseqüências. Ontem acordei atrasada. Esqueci o celular e a cara na cama. Desci pro café e minha mãe fez cara de preocupação e disse que a minha cara tava meio palida. Quando a mãe diz palida, deve-se entender como eufemismo pra morta-viva. Mas, principalmente, quando sua mãe já olha com cara de preocupação (eufemismo pra pena) é porque a situação ta pegando. Mãe sempre acha a gente bonito. Menos quando a gente esquece a cara na cama e desce com cara de testemunha oculta em reportagem de TV.
Esquecer celular, tudo bem. A gente pode dar toque do celular alheio,comprar cartão telefonico. Mas a cara, compromete. Papai tava assistindo uma matéria sobre umas fantasias de carnaval que lembravam cortes de cabelo aborigenes misturados com alguem que se enrrolou em 150 colchas de cama. Ele disse que eu convencia como parte do programa tranquilamente. E isso é sério.

Nada contra aproveitar bem as horas do dia, mas que atire a primeira pedra quem nunca acordou chamando urubu de meu louro depois da 13,14 horas de sono. Meu pai é do time que acha que depois das 7 já se perdeu metade do dia. Não sei que conta é essa. Meu dia tem 24 horas e se eu não dormir 8 ele não rende nem duas e meia.

Não é como se eu tivesse verme, só pensase em dormir. Eu sou uma pessoa ativa, até demais inclusive. Mas não da pra negar, sempre tem cientistas estrangeiros (que trabalham a bessa, eu imagino) publicando coisas sobre os beneficios do sono. Emagrece, faz bem pra pele e a gente até cresce! Todo mundo devia ter o direito de dormir bem e o suficiente pra acordar com a cara pregada ao resto do corpo.

Mas, como dormir cedo é bem raro depois que esse tal de TCC chegou na minha vida e acordar tarde se torna bem complicado quando se usa transporte coletivo público nesta cidade, restam as alternativas para completar antes do meio dia as 8 horas de sono. Se morar longe do trabalho dá pra garantir pelo menos uns 20 minutinhos de cochilo no coletivo. Só não pode ter muito pudor, porque qualquer curva mais acentuada ou freiada brusca você pode parar no colo da senhora, emo ou vendedor de caneta e adesivos ao lado. E nem isso de ter vergonha de roncar ou babar na frente de desconhecidos completos. (eles nem sabem seu nome, no máximo pegam onibus contigo todo dia.)
E ah.. os que estudam.. como têm sorte aqueles que vão para a escola pela manha! Ainda não experimentei nenhum momento de sono melhor do que aqueles, em que ouvindo a voz arrastada da professora falando sobre a era vargas ou o neoliberalismo, sentados com a mao no queixo na frente dela e lutando para deixar os olhos abertos, conseguimos dar uma boa dormidinha e até sonhar. São os 5 minutos mais longos e revitalizantes que alguem pode vivenciar!


Fantasia inspirada em mim quando acordo assustada e atrasada. Tambem te amo,pai.